Obesidade Infantil e na Adolescência – Um Grave Problema Nos EUA e Brasil

Obesidade Infantil e na Adolescência – Um Grave Problema Nos EUA e Brasil

obesidade infantil

Como médica endocrinologista e nutróloga que atua na região de Alphaville/Barueri, vejo diariamente os efeitos devastadores da obesidade infantil na minha prática clínica. Embora você possa considerar o seu filho apenas rechonchudo ou com “peso de bebê”, esses quilinhos aparentemente inofensivos podem acabar se transformando em um problema muito mais sério. 

“A obesidade infantil não é apenas uma questão de estética ou conveniência. É uma questão de vida ou morte. De acordo com a American Heart Association, crianças obesas têm uma chance muito maior de se tornarem adultos obesos, aumentando, assim, os riscos de desenvolverem doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e muitas outras condições de saúde graves.”

Eu entendo totalmente sua preocupação neste momento. Isto é um problema bastante complexo, com muitas nuances e culpa por parte dos pais. Mas quero assegurar-lhe que a obesidade infantil pode ser prevenida e tratada de maneira eficaz. Hoje, vamos explorar juntos a profundidade do problema, entender suas causas e explorar possíveis soluções.

O que é obesidade infantil e por que é um problema sério?

A obesidade infantil é uma condição médica que afeta crianças e adolescentes. É caracterizada por um excesso de peso corporal para a altura e idade da criança. Quando uma criança tem um índice de massa corporal (IMC) acima do percentual normal para sua idade e sexo, é considerada obesa. Hoje, a obesidade infantil é reconhecida como uma grave questão de saúde público tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. 

Mas, por que é um problema sério? Uma das razões é que as crianças obesas têm maior probabilidade de se tornarem adultos obesos. Isso pode colocá-las em risco de desenvolver uma variedade de problemas de saúde física e mental, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardíacas, apneia do sono e baixa autoestima. Eu, como médica, vejo essas complicações diariamente no meu consultório. 

Além disso, a obesidade infantil não afeta apenas a saúde física das crianças. Ela também tem impactos psicológicos significativos, incluindo problemas de autoimagem, depressão e transtornos alimentares. E muitas vezes, esses efeitos persistem na vida adulta. 

No entanto, o mais preocupante é que uma geração inteira de crianças pode estar enfrentando problemas de saúde mais cedo do que seus pais. No ritmo atual, as crianças de hoje podem ser a primeira geração a ter uma expectativa de vida mais curta do que seus pais. Isso é alarmante e é por isso que devemos levar a obesidade infantil a sério.

Quando é que uma criança é considerada obesa?

Definir a obesidade infantil pode ser um pouco mais complicado do que na população adulta. Isso se deve ao fato de que o crescimento e desenvolvimento de uma criança não ocorrem em um ritmo linear constante. 

Na minha prática clínica, utilizamos o índice de massa corporal (IMC) como uma das ferramentas para determinar se uma criança está acima do peso ou obesa. O IMC é uma medida que leva em consideração a altura e o peso da criança. Para crianças e adolescentes de 2 a 19 anos, a obesidade é definida como um IMC no 95º percentil ou acima para a idade e o sexo da criança. 

Note, no entanto, que ter um IMC alto para a idade e sexo não significa necessariamente que uma criança seja obesa. O pediatra ou um profissional de saúde qualificado deve fazer uma avaliação de saúde geral, considerando outros fatores importantes, como padrões de crescimento históricos da criança, desenvolvimento físico, e outros indicadores de saúde. 

Parte da razão pela qual é essencial identificar a obesidade infantil tão cedo quanto possível é que, uma vez que uma criança se torna obesa, é muito mais provável que a obesidade e seus problemas de saúde relacionados persistam na idade adulta.

Consequências da obesidade infantil na saúde das crianças

É importante ressaltar que a obesidade infantil vai muito além de questões estéticas. Quando recebo uma criança obesa em minha clínica, minha maior preocupação é com as numerosas condições de saúde que ela corre o risco de enfrentar, muitas das quais podem ter efeitos duradouros. 

  • Diabetes tipo 2: Crianças obesas correm um risco muito maior de desenvolver esse tipo de diabetes. Isso se deve ao excesso de açúcar no sangue, que o corpo de uma criança obesa tem dificuldade em regular.
  • Problemas cardiovasculares: O excesso de peso contribui para o aumento da pressão arterial e do colesterol, fatores de risco para doenças cardíacas. Se não controlados, cólon estes problemas podem se estender até a vida adulta.
  • Ápnea do sono: A obesidade pode interferir na respiração durante o sono. Casos graves podem levar a problemas como a síndrome da apneia obstrutiva do sono (SAOS), que aumenta o risco de problemas cardíacos.
  • Problemas ortopédicos: O excesso de peso pode colocar estresse excessivo nas articulações e ossos da criança, causando problemas como dores nas costas e problemas de postura.
  • Problemas psicológicos: O bullyng e a discriminação são comuns contra crianças obesas. Isso pode levar a problemas de autoestima e, em alguns casos, a transtornos depressivos.

Entender as potenciais consequências da obesidade infantil é o primeiro passo para combatê-la. Da próxima vez em que seu filho pedir um lanche fora de hora ou mostrar resistência para praticar atividades físicas, lembre-se da gravidade dos riscos à saúde que ele pode estar correndo.

A importância da nutrição adequada e como prevenir a obesidade infantil

Como médica endocrinologista e nutróloga, posso afirmar que a nutrição adequada é uma componente fundamental na prevenção da obesidade infantil. É importante lembrarmos que prevenir a obesidade infantil não é apenas sobre evitar ganho excessivo de peso, mas também sobre garantir o crescimento e o desenvolvimento adequados da criança. 

Equilíbrio é a chave 

O segredo para uma nutrição adequada é o equilíbrio. Na prática, isso significa combinar os diferentes grupos alimentares de maneira inteligente, priorizando os alimentos ricos em nutrientes e evitando o excesso de alimentos ricos em açúcares, gorduras e sal. É essencial manter uma boa fonte de proteínas magras, frutas e vegetais frescos ricos em vitaminas, fibras e minerais, e carboidratos de qualidade na dieta de uma criança. 

Evite alimentos industrializados 

Além de favorecer uma alimentação equilibrada, é importante evitar alimentos processados e ultraprocessados. Este tipo de alimento costuma ser muito rico em açúcares, gorduras e sal, além de possuir poucos nutrientes. A substituição dos alimentos ultraprocessados por opções frescas e naturais contribui para uma alimentação saudável e balanceada. 

Envolva a criança no processo 

Minha experiência me mostrou que uma maneira efetiva de introduzir a boa alimentação para as crianças é envolvê-las no processo. Quando incentivamos as crianças a ajudarem na cozinha ou a escolherem seus próprios alimentos saudáveis, elas tendem a ter mais interesse pelos alimentos nutritivos e, como consequência, uma alimentação mais balanceada. 

Fique atento também às necessidades calóricas do seu filho. Cada criança tem uma necessidade calórica diária que varia de acordo com a idade, sexo, peso e nível de atividade física. As necessidades nutricionais das crianças não devem ser baseadas em dietas adultas. Encoraje-as a comer de tudo, mas com moderação. 

A prevenção da obesidade infantil é um desafio constante, mas com as estratégias corretas e um acompanhamento profissional adequado, é possível garantir que seu filho cresça saudável e com uma relação positiva com a comida.

Estatísticas e o quê fazer para evitar a obesidade infantil

Os últimos dados disponíveis em pesquisas sobre obesidade infantil foram lançados, e as notícias não são boas.

Nos Estados Unidos, 41,5% dos jovens entre 16 e 19 anos de idade apresentava sobrepeso em 2015/2016, um salto de 36,7% em relação à apenas dois anos anteriores. Os números foram ainda piores para as mulheres nessa faixa etária: 47,9% tinham sobrepeso, contra 35,6% em 2013-2014.

Essa não é uma boa tendência, e cada vez fica mais claro que a obesidade infantil avança como uma pandemia de nível mundial.

Foi evidenciada uma outra tendência preocupante entre as crianças de 2 a 5 anos, dentre as quais 26% apresentavam sobrepeso. Se você olhar para a porcentagem que não era apenas apresentava sobrepeso, mas obesa, entre 2013/2014 e 2015/2016, a porcentagem passou de 9,3% para 13,7%.

A tendência entre as crianças pré-escolares é particularmente preocupante, uma vez que estudos recentes descobriram que, se uma criança está com excesso de peso na pré-escola, portanto apresentando obesidade infantil, é provável que elas permaneçam assim na idade adulta.

Essa é uma das constatações mais significativas dos estudos mais recentes. Não há mais o que chamamos carinhosamente de “gordura do bebê” ou “dobrinhas fofas”. A gordura não desaparece à medida que as crianças envelhecem – eles tendem a permanecer na fase adulta com os resultados nefastos da obesidade infantil.

Isso tem terríveis implicações para a futura saúde de nossos filhos. Ser obeso como adulto está associado a ter uma má saúde – e consequentemente à enfrentar uma morte precoce.

Crianças brincando; solução para a obesidade infantil

Nos estudos realizados nos Estados Unidos, as taxas de obesidade infantil oram muito maiores entre as crianças negras e hispânicas do que em crianças brancas e asiáticas, o que demonstra parte do que torna este problema tão complicado e difícil. Fatores culturais e socioeconômicos desempenham um papel importante na obesidade.

Apesar de podermos dizer e conjeturar que a obesidade é um problema que deriva da equação dieta/exercício físico, em seu entorno muitos fatores influenciam o que comemos e o quão ativos somos. Onde vivemos (o que afeta a disponibilidade de alimentos e os preços, bem como os espaços seguros disponíveis para o exercício), nossa renda, a publicidade a que somos expostos, disponibilidade de oportunidades de exercício, programação escolar e refeições, rotinas diárias – tudo isso tem um papel em nosso peso e a peso de nossos filhos.

Há muitas iniciativas em andamento para ajudar a combater a obesidade infantil, mas o problema é tão grande e complexo que é difícil para qualquer iniciativa individual ser um fator prepodenderante. Isso não significa que não possamos fazer nada, porque podemos.

A única coisa que todos podemos e precisamos fazer, é levar o problema a sério.

Não existe uma única solução que ajude todas as crianças – mas sempre há algo que pode ser feito para cada criança, se os pais e cuidadores trabalharem duro e não desistirem.

5 Regras de Ouro para Prevenir a Obesidade Infantil e na Adolescência

  1. Saiba se seu filho está com um peso saudável. Usamos o índice de massa corporal para nos ajudar a descobrir isso. É um cálculo que utiliza altura e peso para chegar a um número. Para adultos, um IMC entre 19 e 25 é considerado saudável. Para as crianças, em vez de um número, usamos percentis. Uma vez que o IMC de uma criança chega ao percentil 85 ou superior, consideramos a criança com excesso de peso. Seu médico pode ajudá-lo a avaliar esta questão.
  2.  Se o seu filho estiver apresentando excesso de peso, não ignore este fato e busque ajuda profissional, tanto com um endocrinologista quanto um nutrólogo. Estabelecer uma relação de confiança com um médico capacitado para abordar estes assuntos é muito importante para que o problema seja solucionado antes que cause problemas permanentes e de muito mais difícil solução na fase adulta.
  3. Implemente mudanças reais e seja persistente. Você nunca deve fazer uma criança se sentir mal por ter excesso de peso e nunca deve colocar uma criança em uma dieta rigorosa, a menos que seu médico lhe diga. Mudanças pequenas e simples, como cortar suco ou refrigerante, comer mais frutas e vegetais e menos alimentos processados, ou limitar a junk food, fast food e doces podem fazer uma grande diferença.
  4. Mantenha-se sempre informado se o seu filho está ativo fisicamente. Isso se aplica a todas as crianças, independentemente do IMC. Os hábitos aprendidos e cultuados durante a infância duram por toda a vida, e o exercício sempre pode ser enxergado como algo saudável. Todos podem estar fisicamente ativos; sempre há uma maneira, mesmo que seja dançar na cozinha ou dar um passeio ao redor do quarteirão. A recomendação é que as crianças estejam fisicamente ativas por pelo menos uma hora por dia. A criança média passa muito mais tempo do que isso na frente de uma tela; se você trocar uma hora de tela por uma hora de exercício, você pode literalmente mudar sua vida e do seu filho, evitando a obesidade infantil.
  5.  Compre e sirva alimentos saudáveis. Isso, também, aplica-se a todas as crianças e famílias, independentemente do IMC. É um investimento na saúde de todos.

Se você não tem certeza sobre como agir a respeito, ou se seus esforços não são bem-sucedidos, fale com seu médico. Sei que já disse isso algumas vezes, mas é importante que fique a mensagem. Às vezes, é necessário desabafar e ouvir uma opinião profissional para saber como mover adiante. Porque, afinal de contas, é disso que se trata: como prover o melhor caminho para nosso filhos.

Juliana Lara – Doctoralia.com.br
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Dra. Juliana Lara

Médica especialista em Endocrinologia (IEDE) e Nutrologia (ABRAN).

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